Uma mudança de Era (Mundo BANI)

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Liderança Consciente-Criativa

Uma mudança de Era (Mundo BANI)

Nas últimas décadas, o conceito VUCA, acrônimo desenvolvido pelo exército americano nos anos 1980, e que significa Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade), foi amplamente adotado pelas empresas de todo o mundo, que desenvolveram, a partir dele, mecanismos e metodologias para orientar processos de tomada de decisão. O conceito também atua como uma estrutura para a criação de sentido nas incertezas e em um mundo em constante mudança, cada vez mais interligado e digital. Agora, porém, com questões ainda mais complexas para resolver, como as mudanças climáticas, as crises políticas e, sobretudo, a pandemia, ele parece ter se tornado insuficiente.

“A maneira como criamos significado em um mundo emergente mudou, e vê-lo como uma série de ameaças que podem ser manobradas taticamente começou a perder relevância. O VUCA existia para trazer sentido a um mundo complexo, mas o mundo de hoje é caótico”, diz Nayara Borges Campos Tonhati, product design lead na Echos Laboratório de Inovação.

Com um novo paradigma, uma nova estrutura se faz necessária: uma que dê sentido não apenas ao mundo atual, mas também às suas consequências contínuas. E qual seria ela? Quais são as ferramentas que permitiriam entender o caos? A resposta foi dada pelo futurista a antropólogo Jamais Cascio: o BANI, termo que significa Brittle (frágil), Anxious (ansioso), Nonlinear (não linear) e Incomprehensible (incompreensível).

Segundo ele, trata-se de uma forma de enquadrar melhor e responder ao estado atual do mundo. “Algumas das mudanças que vemos acontecendo em nossa política, nosso meio ambiente, nossa sociedade e nossas tecnologias são familiares – estressantes à sua maneira, talvez, mas de um tipo que já vimos e lidamos antes. Mas muitas das convulsões agora em curso não são familiares, são surpreendentes e completamente desorientadoras. Elas se manifestam de maneiras que não apenas aumentam o estresse que sentimos, mas também multiplicam esse estresse”, escreveu em um artigo publicado no ano passado.

Frágil, ansioso, não linear e incompreensível
O contexto de frágil foi trazido porque as organizações muitas vezes são dependentes de estruturas frágeis, e com a pandemia isso ficou mais claro. “São empresas que têm um poder extremamente centralizado ou que têm uma única proposta de valor, um único produto em linha. E vemos fragilidade em uma série de áreas, como na agricultura, com a monocultura, e no meio ambiente, com as questões da mudança climática”.

No mundo BANI, um sistema frágil é fácil de quebrar e está sujeito a um fracasso total e repentino. Para lidar com esse cenário, a product design lead na Echos diz que é preciso resiliência e colaboração, inclusive com concorrentes, além de trabalhar a diversidade em várias esferas (equipe, produtos, serviços e modelos de negócios), e adotar estruturas mais bem distribuídas.

Já a ansiedade está muito relacionada à falta de controle que se vivencia atualmente e traz consigo uma sensação de impotência, medo e insegurança. Ela é a exacerbação da incerteza e produz cenários cada vez mais catastróficos. De acordo com Cascio, em um mundo ansioso, toda escolha parece ser potencialmente desastrosa e leva, mais comumente, a dois caminhos: o da passividade ou o do desespero.

Entre as maneiras de se lidar com esse ponto estão trabalhar a empatia, incluindo a autoempatia, o mindfulness, a segurança psicológica dentro das organizações, a escuta e até a vulnerabilidade, bem como criar caminhos para a cocriação, com a intenção de pensar em cenários mais positivos.

O não linear se deve à desconexão entre causa e efeito no tempo. Neste mundo, os resultados das ações realizadas (ou não realizadas) podem ficar totalmente desequilibrados, e pequenas decisões resultam em consequências enormes, boas ou ruins.
“Isso fica muito evidente na situação em que estamos vivendo, de pandemia. Ela não tem uma solução única, é um problema mais amplo, que tem atores variados e com diferentes pontos de vista envolvidos. O mesmo vale para as mudanças climáticas e o desemprego, só para citar algumas questões atuais. Temos vistos sinais cada vez mais claros da não linearidade em muitas esferas, e isso nos convida a experimentar, a romper barreiras, a fazer parcerias, a reaprender, a sermos mais flexíveis e adaptáveis, a termos pensamentos sistêmicos e olhar para o todo para entender como funcionam as novas dinâmicas”, analisa Nayara.

Diante disso tudo, é comum que as coisas se tornem incompreensíveis, sem uma lógica aparente, e, nem sempre as informações adicionais são garantia de melhor compreensão. Em seu texto sobre o BANI, Cascio pontuou que “mais dados – até mesmo big data – podem ser contraproducentes, sobrecarregando nossa capacidade de entender o mundo, tornando difícil distinguir ruído de sinal. A incompreensibilidade é o estado final da ‘sobrecarga de informações’”.

Entre as habilidades necessárias para lidar com essa falta de compreensão e para conseguir navegar em tanta inconstância estão, principalmente, transparência, ética, intuição, experimentação e aprender a aprender.

“O Bani é uma forma para compreendermos esse novo cenário e nos ajudar a pensar. E ele traz também algumas provocações: Como agimos efetivamente a partir dessa visão sistêmica? O que muda na nossa forma enquanto indivíduos, líderes e empresas? Qual o perfil de liderança que irá se sustentar? Como facilitar a colaboração em diferentes instâncias na sociedade? Como aprendemos a aprender? Como lidamos com o novo?
São questões importantes que devemos pensar para podermos traçar o mínimo de estrutura para conseguirmos caminhar e navegar nesse mundo tão incerto”, completa Nayara.

Fonte: Artigo de RENATA TURBIANI para Época Negócios (06 FEV 2021)

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