O Capitalismo como conhecemos hoje é o melhor caminho para o sucesso?

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O Capitalismo como conhecemos hoje é o melhor caminho para o sucesso?

Ana Paula Candeloro

Agente Transformadora - Conselheira estratégica e inovadora para organizações e fundações com foco em inovação, sustentabilidade e investimento de impacto e mentora especialista em ESG e ODS. Sócia Fundadora da @yesia.impacto

Quando pensamos no capitalismo, qual é a primeira imagem que vem à sua cabeça? Apesar de não haver resposta certa para essa pergunta, são poucas as vezes em que imaginamos cenas de sustentabilidade ou impacto social atreladas a esse modelo econômico.

Esses não são conceitos que representam o tipo de capitalismo que conhecemos hoje, mas isso pode mudar. Nesse artigo, vamos repensar se esse modelo é realmente o melhor caminho para o sucesso, e te apresentar o que é o capitalismo consciente.

A crise moral do capitalismo

De maneira prática, o capitalismo atual é pautado na premissa de que terá mais sucesso quem acumular mais riqueza, ao possuir os meios de produção. É nesse cenário em que nos acostumamos com as noções de propriedade privada, o acúmulo de capital, a competição do livre mercado e o trabalho assalariado. Foi com base nesse modelo econômico que vimos surgir importantes potências mundiais, encabeçadas pelos Estados Unidos, que comprovaram a ideia de que esse sistema funcionava.

O grande problema nisso tudo são as consequências desse acúmulo desenfreado de bens. No meio dessa guerra para saber quem ganha mais a população e o meio ambiente são esquecidos. Por conta disso, hoje sofremos com o aquecimento global, acompanhamos contínuos escândalos corporativos de corrupção e vemos a sociedade cada dia mais desigual.

São esses os fatores que nos levam a perceber essa “crise moral” do capitalismo. Um modelo que cada vez mais se prova ineficiente e pouco sustentável. Afinal, de que adianta termos toda essa riqueza se no final não restar um planeta Terra onde possamos aproveitá-la?

A ascensão do Capitalismo Consciente

Essa linha de pensamento, apesar do que você possa pensar, não é nada recente. Desde a Idade Média já existem relatos de organizações responsáveis por prestar serviços à sociedade, você imaginava?

Com o passar dos anos e a crescente onda de problemas originados pelo capitalismo atual, a noção do capitalismo consciente começou a ser discutida novamente. O primeiro marco desse movimento nos anos recentes foi o lançamento do livro “Firms of Endearment – How World-Class Companies Profit from Passion and Purpose”, escrito por Raj Sisodia, David B. Wolfe e Jagdish N. Sheth, em 2003.

A ideia desse novo modelo econômico voltou à tona porque o capitalismo, como sistema já estabelecido, deve ser reavaliado e reconstruído de forma mais humana. Ou seja, nós como humanidade precisamos que o setor privado empresarial esteja ativamente envolvido na solução de todos esses problemas que já comentamos acima. Assim como Kofi Annan, ex-Secretário Geral da ONU, dizia, essas questões só podem ser resolvidas com a ajuda das corporações; não podemos depender apenas do setor público e de ONGs.

Mas afinal, como funciona o capitalismo consciente na prática?

Nesse modelo, a ideia é que os negócios sejam construídos para criar valor para todos os stakeholders e também para o planeta. Sem focar apenas no lucro, mas definitivamente sem deixá-lo de lado. Dessa forma, todas as pessoas envolvidas com a organização são beneficiadas, sejam elas investidoras, funcionárias, clientes ou toda a comunidade em torno dela. As empresas possuem um grande potencial para causar impacto positivo no mundo e é nisso que o capitalismo consciente se baseia.

Thomas Eckschmidt, co-fundador do movimento do capitalismo consciente no Brasil, explica que existem quatro princípios básicos que devem orientar os negócios nesse sistema:

  • Propósito maior: uma crença que mova e inspire, tendo o lucro como consequência.
  • Orientação para stakeholders: pensar no bem-estar de todas as pessoas envolvidas, para que consigam trabalhar juntas, e assim atingir melhores resultados.
  • Liderança consciente: garantir uma liderança que seja capaz de inspirar e engajar esses stakeholders por meio do propósito maior.
  • Cultura consciente: construir uma cultura de transformação e impacto, que será vivida e reproduzida por toda a comunidade em torno do negócio.

Atualmente, o capitalismo consciente no mundo é encabeçado pela organização Conscious Capitalism, fundada em 2009 por Raj Sisodia e John Mackey, co-fundador da Whole Foods Market. No Brasil ela é representada pelo Instituto Capitalismo Consciente Brasil. Além dessas instituições, o movimento também é apoiado pelo Pacto Global e pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, os ODS. Eles atuam como uma espécie de guia para as empresas agirem na solução dos problemas da humanidade que enfrentamos hoje.

Economicamente falando, o capitalismo consciente ainda pode trazer bons lucros?

Como já comentamos acima, apesar do lucro não ser o foco das organizações ele não se torna irrelevante. Afinal, ainda estamos falando sobre uma vertente do modelo capitalista. Na realidade, negócios conscientes tendem a apresentar resultados econômicos inclusive superiores ao da maioria. De acordo com o livro Firms of Endearment, suas ações tiveram um desempenho 10,5 vezes maior do que empresas listadas no Índice S&P 500, que agrupa as 500 principais organizações dos Estados Unidos na Bolsa de Valores.

Além disso, observamos uma tendência muito forte por parte das pessoas consumidoras de escolherem negócios que estejam alinhados aos seus valores. Em um estudo realizado pela Union + Webster, foi divulgado que 87% da população brasileira prefere consumir de empresas sustentáveis. Ainda, 70% das pessoas disseram não se importar em pagar um pouco mais por isso.

Não são apenas clientes que pensam dessa forma, mas os stakeholders também, principalmente as pessoas funcionárias. Se quem está trabalhando acredita no propósito da instituição, recebe uma remuneração justa e vive uma cultura positiva de transformação, ela tende a valorizar mais o espaço de trabalho e sua marca empregadora.

Como podemos perceber, a tendência de trabalhar pelo bem-estar geral e lucrar como consequência parece que toma cada vez mais força. Não à toa, já são 200 empresas associadas ao Capitalismo Consciente Brasil, dentre elas iFood, Petz e Reserva. A mentalidade de trade off, em que entregamos valor em detrimento de algo, está acabando e abrindo espaço para um pensamento em que todo mundo se beneficia.

Se você quer saber mais sobre como transformar sua organização em um negócio consciente, entre em contato conosco! Vamos te ajudar no processo de redescobrimento do seu propósito e te guiar nessa jornada de adaptação.

Para saber mais, você também pode conferir os seguintes conteúdos:

  • Livro escrito por John Mackey e Raj Sisodia – Capitalismo consciente: como libertar o espírito heroico dos negócios
  • Livro escrito por John Elkington – Sustentabilidade – Canibais com Garfo e Faca
  • TEDx de Thomas Eckschmidt: Capitalismo consciente – uma nova era econômica
  • TEDx de Raj Sisodia: Reimagining Capitalism with Higher Consciousness

Autora Co.laboradora 
Ana Paula Candeloro

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